Especialista em saúde mental alerta que docência saudável dura, em média, 10 anos e cria programa para combater afastamentos
Neste Dia dos Professores, celebrado nesta quarta-feira (15), uma pergunta ecoa nas escolas e fora delas: quem cuida de quem ensina? A data, marcada por homenagens, também serve como alerta sobre a crescente necessidade de atenção à saúde mental dos educadores — profissionais que enfrentam pressões diárias e, muitas vezes, silenciam o próprio sofrimento em nome da vocação de ensinar.
De acordo com o psicólogo e neurocientista Doutor Jefferson Luís Azevedo Morel, a profissão docente vive uma crise silenciosa. Ele destaca que os professores têm, em média, uma “vida útil” de 10 a 15 anos em sala de aula, antes de adoecerem física ou emocionalmente, ou até mesmo deixarem a profissão. A constatação vem de anos de observações, entrevistas e atendimentos clínicos realizados junto a educadores.
Uma pesquisa recente reforça essa realidade. O trabalho “Saúde Mental na Educação: Análise das Políticas Públicas que Integram Saúde Mental e Bem-Estar dos Docentes do Mato Grosso do Sul”, publicado em maio deste ano pelo mestrando em Ciências da Educação Elberto Teles Ribeiro, revelou que uma parcela significativa dos professores relata estresse e ansiedade decorrentes das exigências da profissão.
O levantamento mostrou que 93% dos docentes entrevistados desconhecem quaisquer políticas públicas implementadas pelo Estado como rede de apoio aos profissionais que necessitam de atenção à saúde mental e bem-estar. Ao todo, foram ouvidos 100 professores da educação básica em Mato Grosso do Sul.
Diante da falta de amparo efetivo do poder público, acende-se o alerta para a necessidade de buscar tratamento especializado e de fortalecer iniciativas independentes que promovam o acolhimento e o cuidado emocional dos educadores. Nesse contexto, o trabalho do Doutor Jefferson Morel criou o Programa Professor Líder (PPL).
Voltado a profissionais das redes pública e privada de ensino, o programa atua em três eixos fundamentais — professor, direção e coordenação escolar, e pais e alunos —, buscando fortalecer toda a comunidade escolar e combater diretamente o afastamento dos docentes.
O PPL já atendeu mais de mil professores em Mato Grosso do Sul e revelou dados preocupantes: a depressão é a principal causa de afastamento dos docentes. Além dela, síndrome de burnout, ansiedade, estresse e transtorno do pânico estão entre as doenças mais recorrentes enfrentadas pelos profissionais da educação.
Segundo Morel, o programa é mais do que um projeto de apoio psicológico: trata-se de uma nova forma de olhar para a educação. Ele explica que o PPL “constitui-se em uma Psicologia comprometida em contribuir efetivamente com a Educação, elaborada com o propósito de criar uma ferramenta inovadora que ajude professores e demais envolvidos no ambiente escolar a se tornarem independentes emocional e mentalmente, enfrentando de forma saudável os desafios do seu contexto real.”
Ao trazer o tema à tona neste Dia dos Professores, a proposta é clara: “valorizar o ensino também significa cuidar de quem ensina. Afinal, uma educação de qualidade começa quando o educador tem condições emocionais e mentais para continuar inspirando e não apenas resistindo”, conclui o psicólogo.
